Teses Defendidas

Da organização do espaço à organização da sociedade, um estudo dos compromissos políticas da arquitectura portuguesa 1945-69

Rui Aristides Lebre

Data de Defesa
4 de Maio de 2017
Programa de Doutoramento
Doutoramento em Arquitetura
Orientação
José António Bandeirinha e Nuno Porto
Resumo
Esta dissertação surgiu no debalde da crise imobiliária de 2008 e de uma vontade de discutir,perceber e projectar o papel que a prática profissional de arquitectura pode desempenhar na reorganização de interesses colectivos. O objectivo foi perceber como o conhecimento especializado da arquitectura contribui para a construção política da realidade. Isto foi desenvolvido através do estudo de um grupo de arquitectos e práticas arquitectónicas portuguesas de meados do século XX, especificamente de 1945 a 1969. A análise da carreira do arquitecto português Fernando Távora (1923-2005) foi o ponto de partida e mediador para um universo colectivo de formação profissional, desenvolvimento urbano e confronto político. Távora foi agente de uma cultura de arquitectura em que o respeito pelo contexto, o compromisso com necessidades e história locais, projectadas internacionalmente pela reputação de arquitectos portuenses como Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura, foram articuladas pela primeira vez. Como tal, esta dissertação transporta uma dupla interrogação: como é que arquitectos portugueses interpretaram no pós-guerra a disciplina como politicamente comprometida? E o que podemos aprender deste caso específico acerca da constituição política da práctica profissional de arquitectura?

Procura-se responder a estas questões estudando dois elementos de construção profissional e política: discursos especializados e as suas relações com governo, poder e ideologia política; projectos de arquitectura e a sua relação com a transformação de paisagens portuguesas. O estudo de discursos cruza a leitura do desenvolvimento de discursos arquitectónicos com a emergência de problemas de governação e linguagens de poder e governo. Este estudo de discursos parte do estudo etnográfico de projectos de arquitectura, baseado em directrizes da antropologia material e espacial. Esta dissertação procura capturar projectos de arquitectura nas suas articulações e projecções de comunidade, conforto, modernidade e cultura.

A primeira parte, do capítulo 1 ao 3, trata da formação de um projecto colectivo para a prática profissional de arquitectura, desenvolvido por jovens arquitectos no pós-guerra, e que tentou aproximar-se de ideais e práticas democráticas. A segunda parte, do capítulo 4 ao 6, trata de como este projecto colectivo de arquitectura implicou a projecção de uma visão particular de cidade e da sua missão edificante no bem-estar nacional. A terceira parte, capítulo 7, trata de como este estilo de apreender a cidade foi praticado no caso de um processo de renovação urbana. Estas partes reúnem uma história e cultura urbana particular, a experiências pedagógicas em educação de arquitectura, a práticas arquitectónicas que procuraram reformular a realidade urbana portuguesa através de uma reformulação profissional.

Esta dissertação discute as intimidades e distinções entre um projecto profissional e um projecto político, transportadas pela disputada identificação de ser português com ser moderno. Discute como um projecto de prática arquitectónica articulou um estilo de apreender a cidade e, como tal, de realizar uma desejada comunidade urbana através dos corpos da arquitectura. Apresenta argumentos para a discussão de como práticas modernas de arquitectura realizam o estado-nação e uma cultura nacional.

Identifica como uma arquitectura para uma verdadeira cultura nacional, com um estilo de apreender a cidade, fez uma construção política passar através da prática da organização espacial. Esta dissertação pretende contribuir para apontar alguns elementos que permitam aproximar a cultura especializada de arquitectura da democracia.