Comentário: Bruno Sena Martins (CES) e Felipe Milanez (CES)

Resumo

Em 2015, o povo indígena Borum (Krenak) teve o principal rio de sua vida destruído, o Watu. O rio vivia no território já devastado pela fúria dos colonos e desbravadores das florestas do vale que foi nomeado de Rio Doce, em referência ao Watu, para os Borum, e citado como Vale do Aço, numa franca declaração de desprezo pela presença deste caudaloso rio, cheio de vida e abundância que poderia suprir toda a necessidade de alimento e vida para seus ribeirinhos.

O Watú, este rio índio ou indígena que chamam de Doce, segue seu destino de rio ofendido e maltratado por gerações de viventes que tiraram de suas águas o que precisaram para viver, leva no seu corpo as marcas da violência e degradação que os empreendimentos, indústrias, comércio das grandes e pequenas cidades lhe dão em troca de ar puro, saúde e vida. Nessa comunicação, apresento uma perspectiva indígena sobre a terra, vida e território, e os conflitos e resistências para a manutenção do frágil equilíbrio de nossa instável relação com todos os seres da criação que fazem a teia da Vida neste planeta que chamamos Terra.


Nota biográfica

Ailton Krenak é um militante indígena dos direitos humanos. Nasceu em 1953, no Vale do rio Doce, Minas Gerais, pertence à etnia  Krenak. Em 1987, no contexto das discussões  da Assembleia Constituinte, foi autor de um gesto marcante, logo captado pela imprensa e que comoveu a opinião pública: pintou o rosto de preto com pasta de jenipapo enquanto discursava no plenário do Congresso Nacional, em sinal de luto pelo retrocesso na tramitação dos direitos indígenas. Fundou e dirige no Núcleo de Cultura Indígena, dirige o Festival de Danças e Culturas Indígenas, na Serra do Cipó (MG).

Recebeu o prestigiado Premio Onassis – Homem e Sociedade, da Fundação Aristóteles Onassis, em Atenas-Grécia-1990; Premio Nacional de Direitos Humanos –Brasil - 2005; Comenda da Ordem do Mérito Cultural do Brasil, em 2008; Apresentador da  série de TV-Educativa “ Indios no Brasil”, 1998; série para TV-Canal Futura “ Tarú  Andé” com  temática indígena, em 2007. Autor de diversos textos e artigos publicados em coletâneas e revistas acadêmicas no Brasil e exterior. Publicou em 2015 o livro Encontros com Ailton Krenak (Azougue Editorial). Em Janeiro de 2016 recebeu diploma de  “Professor Honoris Causa” pela Universidade Federal de Juiz de Fora-UFJF.

Atividade no âmbito dos Programas de Doutoramento "Human Rights in contemporary Societies" e "Pós-Colonialismos e Cidadania Global", com o apoio do projeto ENTITLE - Rede Europeia de Investigação de Ecologia Política  e da Oficina Ecologia e Sociedade do CES