Teses Defendidas

Das revoluções por cumprir às resistências (im)possíveis: jovens e percursos de violências em El Salvador e na Guiné-Bissau

Sílvia Roque

Data de Defesa
4 de Dezembro de 2014
Programa de Doutoramento
International Politics and Conflict Resolution
Orientação
José Manuel Pureza
Resumo
Esta tese questiona as perspectivas académicas e as práticas internacionais dominantes sobre contextos de pós-guerra, defendendo que estas se encontram centradas num pensamento binário que diferencia como categorias e períodos antinómicos guerra e paz, político e criminal, reprodução e resistência. Argumenta-se que esta visão redutora impede a compreensão da complexidade das relações, continuidades e mimetismos entre lógicas e períodos da guerra e a paz. Isto porque as perspectivas dominantes das Relações Internacionais, e mesmo dos Estudos da Paz e dos Conflitos, tendem, a ignorar múltiplas violências quotidianas assim como os percursos de produção de margens sociais e políticas e as suas reconfigurações ao longo da história; tendem, ao mesmo tempo, a veicular visões estereotipadas dos grupos nas margens do poder, nomeadamente os jovens de países e sociedades periféricas, e a constituí-los como ameaças para a segurança internacional, ignorando o sofrimento localizado e os percursos concretos de reprodução das violências; tendem ainda a secundarizar o papel de dinâmicas e actores internacionais na produção da violência, assim como a negligenciar uma análise das dinâmicas de resistência e de nãoviolência no quotidiano, privilegiando-se uma análise do comportamento dos actores formalmente entendidos como políticos. Pelo contrário, adopta-se nesta tese uma perspectiva alternativa de análise a partir de dois contextos distintos: El Salvador e GuinéBissau. Partindo das experiências e percepções de jovens não privilegiados, em contextos urbanos marcados por adversidades constantes, questiona a utilidade e pertinência dos enquadramentos de reflexão e de intervenção baseados na identificação entre pós-guerra, pós-crise e pós-violências e revela a permanência e incrustação da guerra, da crise e da violência no quotidiano. As vivências quotidianas de violência, de sofrimento e de impossibilidades nestes contextos reflectem fragmentos de guerra na paz, assim como fragmentos de resistência na reprodução da violência e da dominação. Reflectem, ainda, uma genealogia das violências e da distribuição do poder à qual não são alheios actores e políticas internacionais. Esta análise leva-nos assim a reconsiderar a distinção rígida entre velhas e novas violências, entre violência política e não política, entre actores políticos e não-políticos, entre agressores e vítimas, entre grupos mais e menos relevantes, entre local e internacional.