Conversa + Debate | SHARP TALKS
Sexo, drogas e saúde mental. A gestão de prazeres e riscos nas práticas de chemsex
Ana Leite
Filipe Couto Gomes
12 de fevereiro de 2020, 15h00
Sala 1, CES | Alta
Resumo
A expressão émica "chem(ical) sex" foi adotada para nomear o uso de novas substâncias psicoativas por homens que têm sexo com homens (HSH) com o intuito de facilitar e potenciar comportamentos sexuais. Atualmente, o termo chemsex representa um conceito guarda-chuva, na medida em que pode ser associado às mais variadas práticas sexuais e de consumo.
Nesta SHARP Talk, discute-se a junção íntima destes dois temas que mantêm o estatuto de tabu – o sexo e o uso de drogas – o que leva à constante descredibilização e diabolização deste tema. Os contributos abordam os principais determinantes psicossociais da saúde sexual e mental dos HSH, e, também, o papel que diversos atores podem desempenhar na sua promoção. Para as tensões e ambivalências estabelecidas dentro deste tema, têm notória contribuição as experiências de homofobia social, o estabelecimento de autoestigma(s) – nos quais, para além da orientação sexual, podem incluir-se estatuto quanto ao VIH, expressão de género e performance da masculinidade, envelhecimento, entre outras dimensões da diferença –, a socialização na heteronormatividade e as pressões homonormativas. Além disto, entre a potencialização do prazer e a possibilidade de colocar em risco a saúde física e psicológica, há um grande vazio que deve ser preenchido, de forma cautelosa e crítica, com conhecimento teórico e prático, tanto através do saber científico que tem vindo a ser produzido, como à luz do saber que decorre da experiência dos utilizadores.
Coorganização: SHARP Talks e APDES – Agência Piaget para o Desenvolvimento.
A saúde mental e sexual dos homens que têm sexo com homens: o caso do chem(ical) sex | Filipe Couto Gomes
Em Lisboa, organizações comunitárias nas áreas da saúde sexual ou mental acompanham HSH que, no âmbito das práticas de chemsex, apresentam necessidades que abrangem o esclarecimento sobre as substâncias, estratégias de redução de riscos – incluindo o acesso às Consultas de Profilaxia Pré-Exposição (PreP) do VIH – e a promoção do bem-estar sexual e mental. Para quem o chemsex adquiriu carácter aditivo e disruptivo, passou a estar disponível apoio num projeto colaborativo entre o Centro das Taipas (DICAD, ARS-LVT) e o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, levado a cabo por terapeutas da Sexologia e da área dos Comportamentos Aditivos e Dependências (CAD).
De modo geral, HSH que notam um controlo diminuído sobre as práticas de chemsex mencionam algum desconforto com a sua imagem corporal, exigência de performance sexual, risco de transmissão de VIH e/ou antecipação da rejeição. Para esta tensão e ambivalência terão notória contribuição as experiências de homofobia social, o estabelecimento de autoestigma(s) – nos quais, para além da orientação sexual, podem incluir-se estatuto quanto ao VIH, expressão de género e performance da masculinidade, envelhecimento, entre outras dimensões da diferença –, a socialização na heteronormatividade e as pressões homonormativas. Estes aspetos também têm grande relevância no surgimento de outras dificuldades de Saúde mental e sexual, como sejam as síndromes depressivas, a ansiedade social e de outros tipos, as disfunções sexuais, a insatisfação sexual e/ou amorosa, as infeções sexualmente transmissíveis, e no extremo desta nocividade, a solidão e o suicídio.
Chemsex: Entre o prazer e o risco – As substâncias psicoativas como ferramenta de (auto)conhecimento e (auto)descoberta | Ana Leite
Que substâncias mais se associam a esta experiência? E porquê? Que benefícios pode comportar e quais os riscos que dela decorrem? Entre a potencialização do prazer e a possibilidade de colocar em risco a saúde física e psicológica, há um grande vazio que deve ser preenchido, de forma cautelosa e crítica, com conhecimento teórico e prático, tanto através do saber científico que tem vindo a ser produzido como à luz do saber que decorre da experiência dos utilizadores. A junção íntima de dois assuntos que mantêm o estatuto de tabu – o sexo e o uso de drogas – leva à constante descredibilização e diabolização deste tema, cujos contributos saem do plano individual e, cada vez mais, começam a ganhar espaço e relevância em áreas de estudo de importância inegável, como é o caso da Psicologia, ainda que por vias tidas como alternativas.
Convidadxs:
Filipe Couto Gomes é médico psiquiatra, mestre em Medicina pela Universidade do Porto com dissertação sobre o acompanhamento clínico na transição de género (2011). Realizou a formação específica em Psiquiatria no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, mantendo colaboração com a respetiva Consulta de Sexologia Clínica. Pós-graduado em Sexologia, pelo ISPA, e em Psiquiatria Social e Cultural, pela Universidade de Coimbra. Colabora com vários projetos comunitários de Saúde mental, dirigidos a jovens e adultos LGBT+, pessoas que vivem com VIH e pessoas que exercem trabalho sexual.
Ana Leite é Mestre em Psicologia do Comportamento Desviante e da Justiça, participa em intervenções em contextos recreativos desde 2013, nos mais variados party settings. Os temas associados ao consumo de substâncias psicoativas estão, desde sempre, no cerne da sua experiência profissional, que vai desde o trabalho em contexto de Comunidade Terapêutica ao trabalho levado a cabo em Equipas de Rua.
Coordenação: Fernanda Belizário, Mara Pieri e Rita Alcaire (CES) | Outras informações: sharptalks@ces.uc.pt