COORDENAÇÃO: Ana Raquel Matos e Andrés Spognardi

TEMÁTICA | OBJETIVOS | ÁREAS DE PESQUISA

TEMÁTICA

O doutoramento em Democracia no Século XXI explora a relação recíproca entre as instituições políticas e a sociedade contemporânea. O programa vai além do estudo sobre o que são as democracias e como funcionam, já que estimula o pensamento crítico sobre as razões do seu funcionamento e como podem ser melhoradas.

As democracias contemporâneas encontram-se num ponto de viragem, moldadas pela interação de duas grandes forças. Por um lado, as profundas mudanças socioeconómicas das últimas décadas abalaram os alicerces que sustentaram as democracias no século XX. A globalização, com os seus fluxos comerciais e migratórios, tem alimentado tensões culturais que estão a transformar a sociedade. As redes sociais e a inteligência artificial estão a alterar a forma como as pessoas se relacionam entre si e com as instituições políticas. A crise climática e o aquecimento global têm vindo a revelar os limites de um modelo de crescimento assente na exploração descontrolada de recursos, dificultando a manutenção do bem-estar social. Entretanto, o aumento das desigualdades económicas e sociais agrava tensões, aprofunda a insatisfação pública e intensifica a crise da representação política.

Simultaneamente, forças contrárias - tanto de cima para baixo como de baixo para cima - estão a impulsionar a mudança, repensando os alicerces da democracia e a forma como funciona. A descentralização do poder atribui maiores responsabilidades às autoridades locais aproximando-as dos cidadãos. Novos espaços de participação pública na formulação de políticas estão a surgir. A ação coletiva e os movimentos de base têm vindo a redefinir o que significa fazer “política”. As lutas de género e o reconhecimento crescente da gestão coletiva de recursos (commoning) estão a expandir as conceções tradicionais de cidadania. O Sul Global já não é apenas um recetor de modelos democráticos do Norte, mas tem vindo ativamente a moldá-los.

Embora os desafios que a democracia encara sejam sérios, também o são os esforços para a renovar, expandir e fortalecer. Este programa de doutoramento adota uma abordagem interdisciplinar para estudar as forças conflituantes em jogo neste momento crítico. Ao longo de três semestres organizados a partir de diferentes unidades curriculares, os estudantes adquirem formação teórica e metodológica. Os seminários de ciência política abordam como os sistemas políticos funcionam e evoluem em diferentes contextos. Os seminários de sociologia política examinam como as forças sociais moldam, atualmente, a democracia. Os seminários de metodologia fornecem formação avançada em métodos de investigação qualitativos e mistos, capacitando os estudantes para produzir trabalho académico de alta qualidade e a aplicar as suas descobertas à resolução de problemas do mundo quotidiano.
 

OBJETIVOS

1. Compreender o funcionamento e a evolução dos sistemas democráticos a nível local, nacional e supranational.
2. Analisar o impacto das principais transformações socioeconómicas nas instituições e práticas das democracia contemporâneas.
3. Promover a investigação teórica e aplicada sobre novas formas de participação cidadã e governação democrática.

PRINCIPAIS ÁREAS DE PESQUISA

O programa de doutoramento está organizado em quatro áreas de pesquisa fundamentais.

Governação Participativa, Poder Local e Inovação Democrática
Esta área analisa práticas inovadoras que fortalecem a democracia, envolvendo os cidadãos no planeamento territorial e orçamental, bem como na definição de políticas públicas. Destaca inovações democráticas a nível local, regional e nacional, bem como esforços para democratizar o conhecimento, ligando a experiência dos cidadãos aos domínios científico e tecnológico. Outro foco essencial é a tecnopolítica, que explora como as tecnologias digitais moldam e são moldadas pelas dinâmicas políticas — desde o ativismo online à governação digital — revelando a complexa interação entre o mundo virtual e o poder político.

Ecologia Política
Esta área de investigação analisa as ligações entre crise ecológica global, equidade social e governação democrática, enfatizando tanto os desafios como as oportunidades para uma transição ecológica justa. Centra-se nas "ecologias de reparação", no bem comum e na comunização enquanto alternativas democráticas ao capitalismo verde. Analisa também o ativismo climático e a eco-cidadania como forças para a transformação política e social, reforçando as ligações entre democracia, participação cívica e sustentabilidade.

Movimentos Sociais e Ação Coletiva
Esta área expande o conceito de "político" ao analisar como os movimentos sociais emergentes transformam questões que não são tradicionalmente consideradas políticas em tópicos centrais de debate público e palco de ação coletiva. Analisa como estes movimentos chamam a atenção para lutas sociais, económicas e culturais, reconfigurando o discurso público e influenciando os processos de tomada de decisões institucionais. Esta abordagem reconhece que a política não se limita a instituições formais, mas está também incorporada em práticas quotidianas, à medida que grupos organizados desafiam narrativas dominantes, redefinem normas sociais e contestam estruturas de poder na busca de maior equidade e justiça.

Cidadania, Igualdade e Diversidade
Esta área de investigação explora várias abordagens teóricas à cidadania, reconhecendo-a como um conceito multidimensional que vai além da mera proteção dos direitos civis e políticos. Considera que a cidadania abrange o reconhecimento da identidade (cultural, de género e outras), a inclusão social e económica e a capacidade de participar ativamente nas decisões que moldam a vida das pessoas. É dada particular ênfase aos debates em torno da diversidade étnico-racial e da igualdade, abordando questões como o multiculturalismo, o interculturalismo, o racismo, o eurocentrismo, o secularismo e a islamofobia.