Seminário
Democratizar o Território, a superação da dicotomia urbano/rural
Rita Serra
Tiago Castela
28 de janeiro de 2014, 18h00
Sala 2, CES-Coimbra
Enquadramento
Amílcar Cabral pronunciava-se, em 1969, durante no seminário do Partido Africado para a Independência da Guiné e Cabo Verde, sobre a importância do território e da pluralidade cultural associada a este. Anos mais tarde em Portugal, em plena revolução de abril e numa liberdade conquistada na rua, não só se amplificaram as importantes palavras de Cabral, como também o direito a terra e ao seu ordenamento se sinonimizava com a autodeterminação dos povos colonizados. Configurando o território como espaço de luta, objeto de luta. No entanto, e apesar de libertos da visão unitária de território imposta pelo regime ditatorial, a dicotomia assumida em Portugal entre o rural e o urbano viriam carregadas de estigmas sociais e políticos, bem como de idiossincrasias que, apesar de livre, reforçavam a ficção nacional.
Atualmente, e com a crise económica e democrática mundial, o território passou, mediaticamente, a lugar de resistência. Construído numa narrativa de resgate do público, movimentos como Occupy, a Primavera Árabe ou as Acampadas Espanholas e Turcas, reivindicam dentro do urbano o lugar público, e exigem a reconfiguração do conceito que delimita a sua esfera para um modelo participativo e plural. Nestes momentos, tal como em Abril, a praça torna-se espaço de reunião e de ensaios para a liberdade. Relembrando-nos que hoje tal como ontem, a presença em massa destes espaços manifestam não só a expressão da liberdade, mas também recriam essa liberdade nos momentos de ocupação para a criação de casas de liberdade e cultura.
Apesar do mediatismo atual destas lutas, outras tem vindo a ser travadas em espaços de silêncio, em lugares periféricos. O rural como a periferia dentro dos estados encontra-se repleto de experiências participativas e plurais que são no entanto narradas em silêncio. Espaços que atravessam os cânones do público e reconfigura o comunitário, que transgridem a propriedade e desafiam as normatividades do direito.
Este primeiro seminário,no âmbito das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril, procura assim abrir a discussão sobre o que é a esfera pública e como a democratização do território passa pela superação do imaginário urbano/rural (cultura/tradição) que comumente vemos caricaturadas quer nos media, quer em processos regulatórios. Nesta busca pela superação, questionamos 40 anos depois as dicotomias e as dinâmicas de poder associadas ao território.
Oradores: Rita Serra e Tiago Castela
Organização: Irina Castro e Pedro Pereira Leite no âmbito da iniciativa '25 de Abril, 40 anos de Futuro'.
Apoio: Centro de Documentação 25 de Abril