ECOSOC - Oficina de Ecologia e Sociedade

Oficina

Experiências, disputas e comunidades na mineração: diálogos entre Brasil e Portugal 

13 de junho de 2024, 10h00

Sala 1, CES | Alta

Segundo o líder indígena Ailton Krenak, “Durante milhares de anos, em diferentes culturas, fomos induzidos a imaginar que os humanos podiam agir impunemente sobre o planeta e fomos reduzindo esse organismo a uma esfera composta de elementos que constituem o que chamamos de natureza - essa abstração. Construímos justificativas para incidir sobre o mundo como se fosse uma matéria plástica: podemos fazê-lo ficar quadrado, plano, podemos esticá-lo, puxá-lo (...). O modo de vida ocidental formatou o mundo como uma mercadoria e replica isso de maneira tão naturalizada que uma criança que cresce dentro dessa lógica vive isso como se fosse uma experiência total” (A vida não é útil, 2020).

O mundo da mercadoria pautou-se na ideia de crescimento econômico infinito e é marcado por uma intensa exploração de minerais. No entanto, ao sobrepor-se a diferentes modos de vida, afetou e segue afetando territórios e comunidades diversas ao redor do globo, que têm seus modos de vida seriamente ameaçados em nome de um suposto progresso social. Retomando ao Krenak, “Eu não conheço nenhuma montanha que volte a produzir cimento e pedra depois de extraídos do corpo dela. Se a gente devora montanhas e engole o subsolo da Terra para erguer cidades, o que estamos fazendo, como diria Drummond, é animar a maquinação do mundo.” (O futuro é ancestral, 2022).

Esta oficina aborda criticamente os impasses e violações no contexto dos extrativismos, a partir da partilha de experiências entre Brasil e Portugal. A oficina está organizada em duas sessões. A manhã será dedicada à discussão de pesquisas em curso e, durante a tarde, haverá uma roda de conversa em torno das experiências de vida e de mobilizações entre Brasil e Portugal. Nosso objetivo é, a partir das especificidades e pontos em comuns encontrados nos territórios, reunir disciplinas e perspectivas para debater e construir alianças em torno de temas como mineração, direitos humanos, desastres socioambientais e emergência climática.

A oficina será conduzida em português e inglês. Poderemos oferecer assistência para tradução em português, inglês e espanhol no local a quem necessitar.


Programa

10:00 - 12:00: Mineração: Da prospecção aos desastres
Moderação: Gustavo García-López

Miguel Artur de Ávila Carranza: A periodização das etapas de licenciamento ambiental frente aos impactos da imigração em pequenas cidades que recebem implantação de empreendimentos minerários no Brasil

Ananda Martins Carvalho: Mineração e Desastres Socioambientais em Minas Gerais (Brasil)

Ana Paula Lemes de Souza: Águas minerais: extrativismo, mineração e engarrafamento de águas no Sul de Minas Gerais (Brasil)

12:30 - 14:30: Almoço Coletivo - Conversas minerárias

14:30 - 16:30: Experiências e mobilizações em torno da mineraçãoModeração: Lúcia Fernandes

Ana Paula Lemes de Souza
Gabriela Margarido
Luzia Queiroz
Mariana Riquito
Tiago Calado
 

Comissão organizadora:
Ananda Martins Carvalho, Lúcia Fernandes, Miguel Artur de Ávila Carranza e Viliina Kaikkonen, como parte das atividades da Oficina de Ecologia e Sociedade do Centro de Estudos Sociais (ECOSOC).



Notas biográficas

Ana Paula Lemes de Souza | Doutoranda em Direito na Faculdade Nacional de Direito, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. É pesquisadora, escritora, ensaísta e advogada. Bolsista de doutorado sanduíche do Programa Institucional de Internacionalização – CAPES – PrInt, em estágio doutoral no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Ativista militante e liderança na defesa das águas minerais e dos parques.

Ananda Martins Carvalho | Doutoranda em Discursos: Cultura, História e Sociedade no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES/ UC) e integrante da Oficina de Ecologia e Sociedade (ECOSOC) do CES. Investiga os efeitos e impactos dos desastres ocasionados pelo rompimento de barragens de rejeitos minerários em Mariana e Brumadinho (Minas Gerais, Brasil). É mestre pelo programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e graduada em Psicologia, com ênfase em Processos Psicossociais, pela mesma universidade.

Gabriela Margarido | Licenciada em Direito (pela Universidade Lusíada de Lisboa), com pós-graduação em Direito do Ambiente (frequentada no Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa). Exerço uma advocacia generalista, em prática individual. Desde 2017, faço parte do movimento de cidadãos que, espontânea e imediatamente, se formou, com vista à contestação ao projecto de exploração mineira a céu aberto, que pretende instalar-se na Argemela (Barco e Coutada, do concelho da Covilhã, e, Silvares e Lavacolhos, do concelho do Fundão), paredes-meias com os habitantes do seu entorno. Em 2021, este movimento cidadão foi formalizado com a constituição da associação GPSA-Grupo pela Preservação da Serra da Argemela, que, desde então, represento.

Lúcia Fernandes | É nvestigadora do Centro de Estudos Sociais e integra a Oficina de Ecologia e Sociedade (ECOSOC, CES). Busca conectar-se com seres vivos, territórios e lutas, onde as redes de cuidado e co-produção de conhecimento compartilhada tem um papel central. Tenta pensar a articulação da investigação com atividades de extensão e docência. Tem trabalhado na área trasndisciplinar que relaciona ambiente, saúde, mobilização dxs cidadãos, com metodologias e pedagogias orientadas para o processo de encontro e coprodução de conhecimento com diferentes envolvidos/as.

Luzia Queiroz | Estudou Turismo no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) e é uma das atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana (Minas Gerais, Brasil). É representante dos moradores e moradoras da comunidade de Paracatu de Baixo na Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF).

Mariana Riquito | Doutoranda na Universidade de Amsterdão e Investigadora Júnior no CES-UC, escreve e pesquisa sobre a contestada "transição energética", explorando debates sobre extrativismo, ecofeminismo, pluralismo ontológico, e alternativas sistémicas.

Miguel Artur de Ávila Carranza | Arquiteto e Urbanista em estágio doutoral no CES, formado na Universidade de Brasília, mobilidade internacional na Universidade de Buenos Aires, especialista em Planejamento Urbano na Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal Fluminense e doutorando pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Com experiências profissionais e de estágios em órgãos governamentais Brasília/Brasil (Ministério Público Federal e Câmara dos Deputados), como de Secretário Municipal de Desenvolvimento Urbano, Obras e Serviços Públicos de Serra do Salitre-MG. Além disso atuou como arquiteto-consultor na Fiocruz/Brasil com projetos de assistência técnica, regularização fundiária e urbanização e docência em três universidades privadas em Minas Gerais e Goiás no Brasil.

Tiago Calado | Concluiu a Licenciatura em Antropologia em 2020/07/08 pela Universidade de Coimbra, Departamento de Ciências da Vida. Frequentou o Mestrado de Ecologia, e atualmente realiza o Mestrado em Antropologia, Globalização e Alterações Climáticas, ambos pela Universidade de Coimbra. As áreas de interesse incluem Ecologia, relações entre atores humanos e não-humanos; Antropologia do Futuro, Urbanismo, Mineração, e Imaginários Sociais.

Viliina Kaikkonen | Investigadora doutoral em Estudos de Desenvolvimento Global na Universidade de Helsínquia, em estágio doutoral no CES. Licenciada em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de St Andrews e mestre em Antropologia Social pela Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales (FLACSO) Argentina. A sua pesquisa doutoral concentra-se nas políticas de transição energética e na prospeção mineira, com uma análise específica sobre o caso do lítio em Portugal, focando-se nas antecipações, especulações e futuros imaginários envolvidos neste processo.