Apresentação

Proponho a leitura do número dos Cadernos de Estudos Africanos sobre “Memórias coloniais” (n.º 9/10, 2006), publicado quando em Portugal ainda tardava uma ampla reflexão e discussão sobre o passado colonial, para um exercício de comparação com o presente. Hoje dispomos de muito trabalho empírico e analítico realizado na academia, nomeadamente no CES sobre as pós-memórias do império e as memórias das guerras coloniais/lutas de libertação africanas. A historiografia sobre o colonialismo português tardio está mais robusta e internacionalizada. Ideias arreigadas sobre uma suposta excepcionalidade da colonização lusa e um “modo português de estar no mundo” mais tolerante e fraterno, a negação da existência de racismo estrutural no país estão a ser questionadas mais intensamente no espaço público. O jornalismo de investigação e o movimento associativo antirracista têm dado um importante contributo nesse sentido. A meu ver, esta é uma tendência nova, que denota o embate de visões concorrentes e a multiplicação de controvérsias e disputas urgentes em democracia. Ao contrário do que se passava em 2006, a fratura colonial parece finalmente à vista de todos na sociedade portuguesa.
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Castelo, Cláudia; Aires Oliveira, Pedro (2006), "Memórias coloniais" número temático em "Cadernos de Estudos Africanos", 9-10