Resumo

Joshua Clover critica neste texto a visão de Bruno Latour de que a pandemia da COVID-19 irá dar legitimidade e poder ao Estado para, por analogia, atuar no futuro de forma mais premente quanto à questão das alterações climáticas. Ora, para Clover o capital não é mais um ator numa rede social qualquer, mas a causa das alterações climáticas e da imposição dos ditames aos Estados na reação à presente pandemia. O eufemisticamente chamado Antropoceno não é um produto dos humanos em geral, mas sim do capital industrial e extrativista. Daí a incapacidade da biopolítica e do seu famoso ditame, um soberano que faz viver e deixa morrer, para se perceber a presente crise pandémica, pois o soberano está completamente subjugado aos interesses de mais-valia e de reprodução infinita do capital. Morrerá quem for necessário para a perpetuação do capitalismo.