Colóquio Internacional

Pessoas, Arrozais e Mangais na Guiné-Bissau: Futuros de Coexistência

12 e 13 de dezembro de 2024

Bissau (Guiné-Bissau)

A contemporaneidade do planeta tem sido atravessada por transformações importantes que vêm conduzindo pessoas e sociedades, e as ecologias de que fazem parte, a futuros incertos. Aspetos como o clima e a biodiversidade, a política ambiental internacional, a democracia e o bem-estar social, são lugares marcados por tensões entre a continuidade e a rutura. Passaram-se vários anos desde o Protocolo de Quioto (1997) e o Acordo de Paris (2015), e dos respetivos compromissos de manter o aquecimento global num máximo de 1,5 ºC, mas muito permanece por realizar. Por um lado, ao longo dos séculos, as emissões de carbono foram geradas de forma desigual entre países e modos de vida. Esta desigualdade foi largamente documentada, mas não se expressa da mesma forma nas políticas de mitigação das alterações climáticas. Por outro lado, as alterações climáticas decorrentes em grande medida destas emissões afetam de forma desigual países e modos de vida. A COP 27 em 2022 reconheceu a necessidade de compensar certos países, em particular os Países Insulares em Desenvolvimento (SIDS), nos quais se inclui a Guiné-Bissau, pelas perdas e danos causados pelas alterações climáticas, para as quais pouco ou nada contribuíram.

Na Guiné-Bissau, o aumento do nível médio do mar afeta e afetará os modos de vida de camponeses que vivem da produção de arroz em bolanha salgada. Produzir alimento e, em particular, produzir arroz, significa produzir bem-estar que, integrado nas cadeias de troca económica, se distribui pelo território. Assim, pode dizer-se que a Guiné-Bissau assiste ao centro da produção do seu bem-estar ameaçado pelas alterações climáticas. Como colocar a produção de bem-estar no centro das prioridades face às transformações que o planeta atravessa?

A relação entre mangal-arrozal tem sido capaz de assegurar os meios edáficos capazes de assegurar a produção de bem-estar, ao mesmo tempo que preservou e produziu a biodiversidade internacionalmente reconhecida e que foi descrita para as zonas húmidas na Guiné-Bissau. Que meios e estratégias têm sido colocados em prática para reconhecer a importância da relação entre mangal e arrozal e garantir a sua continuidade? E para proteger e compensar as sociedades camponesas capazes de as significar e produzir, apesar das alterações climáticas em curso?

O projeto MARGINS - Pessoas, arroz e mangais nas periferias: Interfaces híbridas em contestação num mundo em mudança tem-se debruçado sobre estas e outras perguntas a partir do estudo da memória, relações internacionais, antropologia e ecologia de lugares que se constroem na interface entre arrozais e mangais na Guiné-Bissau. Após um percurso que seguiu perspectivas multidisciplinares, mergulhamos agora no seu aprofundamento interdisciplinar de forma a clarificar debates, cruzar experiências e imaginar futuros.

Com base em estudos de caso, foi possível documentar a expansão e contração de mangais e arrozais desde 1950, modelar a variação do nível médio do mar e seus regimes de inundação futuros, estudar o perfil do solo desde a terra firme ao mangal, interpretar transformações na tecnologia orizícola, e sua relação com o trabalho, transmissão de conhecimento e transições políticas, e discutir as políticas agrárias e de conservação. Os resultados apresentados derivamda análise de relatórios e bibliografia, estudos de deteção remota e modelação do nível médio do mar, análises de solo e de vegetação, etnografia, memória e mapeamento participativo.

Esta conferência será um dos momentos finais de discussão pública do trabalho conduzido desde 2022. Nestes dois dias vamos dialogar em várias línguas disciplinares e empíricas e, a partir delas, cruzar pensamentos, identificar reflexões comuns e navegar controvérsias. O diálogo será realizado com recém mestres formados no âmbito do projeto, finalistas de licenciatura da Universidade Amílcar Cabral, consultores, restantes membros da equipa, colaboradores e colegas de investigação e de instituições dedicadas à gestão agrícola e da biodiversidade. Finalmente, é nossa aspiração que a reflexão e discussão durante a conferência, e que os livros e podcasts colocados em acesso livre, possam contribuir para a ação situada face às forças que conduziram e continuarão a levar à reconfiguração forçada de zonas costeiras onde se produz a base do sustento guineense – o arroz.

Localização: Sala da Biblioteca da Universidade Amílcar Cabral, Bissau + online

[INSCRIÇÃO]

O projeto MARGINS (FCT; PTDC/SOC-ANT/0741/202) assenta numa colaboração entre o Centro de Estudos Sociais (CES-UC), o Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas (cE3c) em Lisboa, a Universidade Amílcar Cabral (UAC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), ambos em Bissau.