Seminário || 2020 Migrating Rights | Keywords
Humanitarianism
Martina Tazzioli (Goldsmiths, University of London)
30 de março de 2020, 14h30 (CANCELADO)
Sala de Seminários (Piso 2), CES | Sofia
Comentário: Cristina Santinho (CRIA-ISCTE), Sílvia Roque (CES) | Moderação: Joana Sousa Ribeiro (CES)
Como parte dos “Direitos de migração de 2020”, será realizado o seminário "Constelação de tecnologias e obstruções ao asilo: refugiados/as como usuários/as tecnológicos forçados/as, para além da vitimização e securitização", de modo a concretizarmos a quarta palavra-chave da série #Humanitarismo. Como nos eventos anteriores relacionados com as palavras-chave #Border #"Interculturalism and Populism e #Middle Passages, este seminário contribuirá também para o desenvolvimento de um debate crítico acerca das questões relacionadas com as migrações e regimes de fronteira.
Palavra-chave #4 | Humanitarismo
Resumo
Constelação de tecnologias e obstruções ao asilo: refugiados/as como usuários/as tecnológicos forçados/as, para além da vitimização e securitização por Martina Tazzioli
Esta apresentação concentra-se na constelação de tecnologias que os/as migrantes precisam para se movimentarem na Grécia e demostra como essas tecnologias são incorporadas no humanitarismo dos refugiados/as de forma a multiplicar as obstruções ao acesso ao sistema de asilo e aos apoios financeiros a que têm direito. Essa perceção do tecno-humanitarismo complexifica as análises que se concentram na securitização e vitimização de refugiados/as, investigando como os/as requerentes de asilo são governados como tecno-usuários forçados. Os/as requerentes de asilo não são criados apenas como sujeitos de risco e sujeitos em risco; nem são simplesmente modelados como empreendedores de si mesmos. Em vez disso, lógicas de securitização e vitimização estão entrelaçadas com a produção de sujeitos, que são legal e fisicamente obstruídos na sua navegação pelo regime de asilo.
Esta comunicação reporta-se ao Programa de Assistência em Dinheiro, que é o primeiro projeto europeu, financiado pela União Europeia, de apoio financeiro aos requerentes de asilo, e explora como, através dos cartões pré-pagos, os/as requerentes de asilo devem comportar-se como tecno-usuários responsáveis e, ao mesmo tempo, cumprir uma série de restrições disciplinares e espaciais. Prossegue-se com uma análise da peculiar financeirização do humanitarismo para com o/a refugiado/a, sob uma ampla constelação de tecnologias obrigatórias na Grécia (por exemplo, Skype, Viber) para se poder aceder ao asilo ou usar os cartões de crédito.
Na terceira parte, analisa-se a administração dos/as refugiados/as por via da desorientação epistémica, evidenciando como isso está no cerne do tecno-humanitarismo: os/as requerentes de asilo como tecno-usuários forçados/as que precisam de enfrentar uma panóplia de etapas tecnológicas e burocráticas que são freneticamente alteradas ao longo do tempo. A apresentação termina com algumas considerações sobre como repensar a crítica à “gestão” dos/as refugiados/as à luz da constelação de tecnologias obstrutivas que mais do que monitorizarem e rastrearem refugiados/as, os/as destituem na reivindicação de direitos e na organização de lutas coletivas.