XI Ciclo Anual Jovens Cientistas Sociais

Investigação e publicação: responsabilidades e questões éticas

André Carmo

Inês Barbosa

Pau Casanellas

Sílvia Gomes

15 de janeiro de 2016, 10h30-17h00

Sala 1, CES-Coimbra

Resumo

Desde 2005, o CES tem organizado um Ciclo Anual de Conferências, dando a conhecer o trabalho de investigação, nacional e internacional, de jovens cientistas no domínio das ciências sociais e das humanidades. Na origem deste ciclo esteve a vontade de promover o diálogo com o trabalho produzido noutras instituições, apoiado numa matriz claramente interdisciplinar.

A 10ª edição dos Jovens Cientistas Sociais tem por tema "Investigação e publicação: responsabilidades e questões éticas", a explorar durante um dia de trabalho. Pretende pensar-se o envolvimento do/a investigador/a com o seu campo de trabalho.

Contaremos com cinco intervenções, duas da parte da manhã e três à tarde, seguidas de um comentário de um/a investigador/a de pós-doutoramento do CES, e de um tempo de debate.

Coordenação científica: Miguel Cardina, Susana Costa e Tiago Pires Marques

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Programa

10h30 – 11H30
Desafios éticos de um doutoramento em geografia humana
André Carmo (Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa)

Esta reflexão incide sobre os desafios éticos enfrentados no decurso de um projeto de doutoramento em geografia humana – Cidade & Cidadania (através da Arte): O Teatro do Oprimido na Região Metropolitana de Lisboa – concluído em 2014. Mais concretamente, revisitamos o itinerário metodológico seguido, refletindo sobre o modo como em diferentes momentos do caminho trilhado fomos interpelados por desafios de natureza ética e política. Em retrospetiva, procurando explorar possibilidades alternativas, procedemos à reavaliação e questionamento do conjunto de respostas adotadas.

Comentador: Tiago Castela (CES)


11h30 – 12h30
Investigação participante e sociologia pública: como, porquê e para quem?
Inês Barbosa (Instituto de Educação, Universidade do Minho)

A investigação de doutoramento iniciada em finais de 2011 coincidiu com o desenrolar do ciclo de protestos globais que afetou Portugal e muitos outros países. Perante isso, optou-se por direcionar o foco da investigação para o contexto das mobilizações sociais contra a austeridade, vinculando de forma interpelante o debate teórico e a intervenção social e política. Mais do que um olhar sobre o Teatro do Oprimido procurou-se exercitar um olhar através do Teatro do Oprimido, assumindo-o como instrumento para uma educação crítica e ação coletiva. Uma investigação dessa natureza – participante, colaborativa, enquadrada numa perspetiva de sociologia pública -, coloca várias questões do domínio ético: que limitações e contradições advêm da dupla condição de académicos e ativistas? Como podemos dar conta dos processos coletivos de criação e reflexão numa investigação que, em última instância, é individual? Que equilíbrio encontramos entre a recusa da neutralidade e o rigor da análise? Qual poderá ser de facto o papel dos cientistas sociais nos processos de transformação do mundo?

Comentadora: Cláudia Pato Carvalho (CES)


Pausa para Almoço

Desafios éticos à investigação sobre identidades e conflitos em Relações Internacionais: o caso da União Europeia e o conflito israelo-palestiniano
Ana Santos Pinto (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas , Universidade Nova de Lisboa)
[apresentação cancelada por motivos de saúde]


14h00 – 15h00
Luta armada e repressão, ditadura e democracia: um olhar desde a história
Pau Casanellas (Instituto de História Contemporânea, Universidade Nova de Lisboa)

O estudo da violência política – tanto aquela do Estado como a dos insurgentes – é uma temática que costuma gerar controvérsia. Especialmente nas últimas décadas, tem-se dado no mundo ocidental um processo de estigmatização das lutas questionadoras do monopólio da violência por parte dos estados, ao mesmo tempo que se tem criminalizado progressivamente a contestação política e social em geral. Isto tudo tem condicionado de maneira importante a investigação sobre a luta armada e a repressão, seja em ditaduras, seja em contextos democráticos. Pretende-se aqui apresentar algumas ideias sobre os problemas éticos e políticos que coloca esta questão a partir de trabalhos realizados sobre a luta armada e a repressão durante o franquismo e os primeiros anos de democracia parlamentar em Espanha.

Comentador: Pablo Pérez Navarro (CES)


15h00 – 16h00
Questões éticas na investigação científica em meio prisional: Das diretrizes formais à informalidade da relação com o Outro
Sílvia Gomes (Centro de Investigação em Ciências Sociais, Universidade do Minho)

Esta apresentação focar-se-á em algumas das questões éticas associadas à investigação científica em meio prisional, particularmente aquelas que resultam da relação com o recluso enquanto objeto da investigação.

A investigação em e do meio prisional e dos/as reclusos/as constitui um meio fundamental para o acesso a informação sobre o crime, o comportamento criminal e a justiça criminal. No entanto, esta investigação reveste-se de alguns desafios éticos. A realização de qualquer investigação científica requer a observação de princípios éticos que asseguram a conjugação dos interesses da investigação e a dos seus participantes, designadamente em termos de confidencialidade, privacidade e segurança para todos os envolvidos. Estes princípios serão aqui discutidos em três momentos distintos: pré, peri e pós recolha dos dados e conjugando e contrapondo analiticamente as diretrizes formais já estabelecidas e impostas por parte das instituições do Estado face a estudos autorizados a serem desenvolvidos em meio prisional (ex. consentimento informado) e a informalidade decorrente da relação com o Outro.

Esta reflexão terá como base o estudo conduzido em 2010 em seis estabelecimentos prisionais, masculinos e femininos, em contexto nacional, no âmbito do projeto de doutoramento (2009-2013) e a experiência adquirida durante essa investigação.

Comentadora: Rafaela Granja (CES)

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Notas Biográficas

André Carmo
Doutorado em Geografia Humana pela Universidade de Lisboa. É assistente convidado do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa e investigador do Centro de Estudos Geográficos. Os seus principais interesses de investigação são os estudos urbanos (segregações urbanas, (in)justiça espacial, direito à cidade), a geografia social (movimentos sociais urbanos, ativismo cultural e artístico) e o pensamento geográfico (geografias urbanas críticas). Tem publicado sobre estes temas em revistas internacionais e nacionais e co-coordenou recentemente a publicação do livro «Cidade Desassossegada!». Coordenou a Plataforma DELI-Lisboa, no âmbito do Projeto DELI (Diversity in the Economy and Local Innovation) para a Câmara Municipal de Lisboa, exercendo atualmente o cargo de coordenador da Rede Portuguesa de Cidades Interculturais (RPCI).

Inês Barbosa
Licenciada em Ensino Básico e mestre em Associativismo e Animação Sócio-Cultural. Foi professora de português língua não materna, expressão dramática, escrita criativa e apoio educativo, trabalhando sobretudo com crianças em situação de risco social. É bolseira de investigação pela Fundação de Ciência e Tecnologia, desde 2011, encontrando-se a concluir o doutoramento em Sociologia da Educação na Universidade do Minho. O seu projeto de investigação procura enquadrar o Teatro do Oprimido (TO) no quadro das mobilizações sociais contemporâneas, enquanto instrumento para uma educação crítica e ação coletiva. É membro fundador do Núcleo de TO de Braga e dirigente da associação juvenil Krizo: Educação, Arte e Cidadania, no âmbito do qual tem vindo a desenvolver vários projetos e iniciativas relacionados com a desigualdade de género, direitos LGBT, precariedade e austeridade.

Pau Casanellas
Investigador de pós-doutoramento no Instituto de História Contemporânea, da Universidade Nova de Lisboa, e membro do Centre d’Estudis sobre les Èpoques Franquista i Democràtica (CEFID), da Universitat Autónoma de Barcelona. O seu interesse enquanto historiador tem-se centrado, nomeadamente, nos anos 60 e 70 do século XX. É autor dos livros “Morir matando. El franquismo ante la práctica armada, 1968-1977” (Catarata, 2014) e – em coautoria – “Gobernadores. Barcelona en la España franquista (1939-1977)” (Comares, 2015).

Sílvia Gomes
Bolseira de pós-doutoramento na Universidade do Minho. Investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais, no polo da Universidade do Minho (CICS.NOVA UM) e na Unidade de Investigação em Criminologia e Ciências do Comportamento, no Instituto Universitário da Maia (UICCC.ISMAI). Doutorada em Sociologia, pela Universidade do Minho, com um projeto financiado pela FCT e uma tese sobre criminalidade, etnicidades e desigualdades sociais. O trabalho de produção científica e investigação tem sido, predominantemente, nas áreas da sociologia do crime e dos estudos dos media, com foco nos temas da criminalidade, criminalização, etnicidades, género, desigualdades e exclusões sociais. Mais recentemente tem trabalho as questões da reentrada e desistência e reincidência criminais.