Títulos e resumos das apresentações

Painel 1

O papel do Programa SUN na prevenção da violência sexual com adolescentes

Eunice Carmo

O Programa SUN (Stand Up Now against sexual violence) é um novo programa de prevenção da violência sexual dirigido a adolescentes do ensino secundário. Este centra-se numa abordagem bystander, que pretende treinar indivíduos para a intervenção em situações em que haja risco de violência ou em que esta já se tenha instalado. Os estudantes treinam competências como impedir alguém de se aproveitar de uma pessoa inconsciente para ter contacto sexual, denunciar alguém que violou outra pessoa ou apoiar uma vítima de violência sexual. O SUN inclui dez sessões semanais de 50 minutos, dinamizadas por psicólogas e investigadoras formadas nos temas do programa. Os temas trabalhados no programa incluem os direitos sexuais e reprodutivos, a violência sexual, o consentimento sexual, os mitos acerca da violência sexual, a intervenção bystander e a empatia pelas vítimas de violência. O Programa SUN pretende contribuir para a prevenção da violência sexual em populações adolescentes.

Racismo obstétrico na perceção dos atores sociais envolvidos: Desenvolvimento de uma teoria substantiva

Ariane Teixeira

Introdução: o racismo obstétrico é um fenômeno que ocorre ao longo da trajetória reprodutiva de mulheres negras ocasionando precário acesso a serviços e à prestação da assistência obstétrica de qualidade. Objetivo: compreender como os atores sociais experienciam o racismo durante a assistência obstétrica. Método: pesquisa qualitativa, que utilizará como referencial metodológico a Teoria Fundamentada nos Dados e interpretada à luz da Teoria da Interseccionalidade. Resultados esperados: pretende-se compreender as condições estruturais intervenientes nas quais o racismo obstétrico está imerso; como se estabelecem as relações de violência racial durante a prática da assistência obstétrica; quais os significados deste tipo de violência para os diversos atores sociais envolvidos no âmbito do cuidado reprodutivo; e como as pessoas significam as experiências negativas. No âmbito internacional, o presente estudo colabora para o alcance de Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 30, bem como as diretrizes do Sistema Único de Saúde, no que tange a equidade e integralidade, pois ao entendermos este fenômeno, esperamos contribuir para a criação de um sistema de saúde mais justo e inclusivo para todas as mulheres e pessoas com útero.

Painel 2

Pode o jornalista 'dar voz a quem não tem'? Um estudo de caso sobre as tentativas do jornalismo de representar o Outro

Gustava Schwabe

O Código de Ética da Sociedade dos Jornalistas Profissionais dos Estados Unidos afirma que jornalistas devem 'dar voz a quem não tem'. Mas a própria instituição reconhece que muitos de seus membros defendem a retirada dessa expressão do código. Por isso neste artigo a afirmação vira questionamento: será possível 'dar voz a quem não tem'? Através de uma revisão de literatura, passando por obras como O Espectador Emancipado, de Jacques Rancière; Orientalismo, de Edward Said; e Pode a Subalterna Tomar a Palavra?, de Gayatri Spivak, buscam-se respostas através de um olhar multidisciplinar sobre conceitos como objetividade, desordem informativa e representação. Além disso a Análise Crítica de duas reportagens ilustra como o conhecimento que se tem do 'Outro' influencia diretamente no conteúdo noticioso, podendo gerar a reprodução de discursos hegemônicos através do fenômeno que será chamado de 'ventriloquismo jornalístico'.

Mídia e o cuidado a crianças e adolescentes violadas sexualmente: uma análise preliminar

Marimeire Morais da Conceição

Objetivo: descrever o uso da mídia no cuidado a crianças e adolescentes violadas sexualmente. Método: Grounded Theory desenvolvida no Nordeste do Brasil, iniciada em 2022 com participação de profissionais, familiares-cuidadoras, crianças e adolescentes. As entrevistas foram analisadas no NVivo por codificação e composição do modelo paradigmático. Aprovado pela Comissão de Ética. Resultados: a descoberta da vivência de abusos por crianças e adolescentes é um fenômeno que abala o emocional, mas desperta nas cuidadoras-familiares a iniciativa pela busca de serviços de segurança pública e judicial. Diante da demora dos trâmites burocráticos, em um ato de desespero, as cuidadoras recorrem à mídia e redes sociais para denunciar o crime. Esta medida tem a intenção de ganhar apoio social, consequentemente, pressionar e impulsionar o andamento do processo jurídico. Conclusões: urge dispor de serviços intersetoriais que viabilizem a prioridade a casos de abusos sexuais com vistas na garantia de direitos e proteção à juventude.

Painel 3

Coverage of Caste-based Sexual Violence. Dalit Rape Survivors’ perceptions of their representations in Indian news media

Sumithra Prasanna

What are Dalit women rape survivors' perceptions of how news media construct the realities of sexual violence? What can their experiences reveal about why they engage with the media? The study utilises a multi-step approach involving interviews with both rape survivors and journalists, guided by the feminist principle of reflecting women's experiences accurately without distortions. The research framework employs a critical qualitative inquiry engaging with notions of injustice to examine how survivors negotiate their identities during media engagements and how media represent survivors. This is in line with the contributions of Donna Martens, Norman Denzin, and Kathy Charmaz, whose approach to critical inquiry is oriented towards helping redress historical, cultural, or social wrongs. A constructivist grounded theory approach undergirds data collection and analyses. Recent scholarship on constructive journalism, journalistic deontology related to sexual violence as well as survivor discourse strategies will inform the final analysis helping me derive policy recommendations, media guidelines, and avenues for future research. 

Feminist Television, Racist Twitter? Diverging Discourses on Sexual Misconduct in the Dutch Media Landscape

Sarah Burkhardt

This paper examines the mediation of sexual misconduct in Dutch media, focusing on the role of social media (Twitter) and legacy media (public broadcasting) in a national media ecosystem. Through a historical analysis of Dutch television (1984-2019) and Twitter discourse (2011-2019), it challenges the assumption that social media promote progressive feminist agendas and discourse. The study reveals that Dutch television consistently advocates for feminist perspectives, portraying sexual misconduct as an "internal" systemic issue, whereas Twitter discourse, particularly since 2015, is increasingly dominated by far-right rhetoric, framing the issue as an "external" cultural threat linked to Islam and the immigration of Arab men. The findings suggest that Dutch television operates as a more "feminist medium" than Dutch Twitter, which promotes hate, racist ideology and populist sentiments. The paper concludes by calling for further research on the intersections between far-right and feminist discourses in both national and global media ecosystems. 

“If it was my account with my name, I would be scared for my life”: Queer Online Sex Work in Turkey

Rukaya Al-Zayani

This paper explores modalities of violence against queer online sex workers in Turkey, a context characterised by homophobic and anti-queer politics. Based on narrative interviews and grounded in a feminist understanding of violence, the article illustrates how different forms of violence travel between the online and offline by identifying three spatiotemporal patterns: the offline experience of online violence, the threatening offline, and the merging of online and offline. The article concludes that while the violence is often banal, mundane, and normalised, the impacts are not. Further, broadening the conceptualisation of violence benefits the investigation of how violence(s) travels between the offline and online contexts and where they intersect, thereby contributing to the fields of violence studies, feminist studies, and queer sex work studies.

Painel 4

Violência Sexual Baseada em Imagens: Análise Comparativa da Vitimação e Reação de Indivíduos Heterossexuais e LGBT+

Ana Júlia Torres

A ubiquidade das tecnologias de comunicação e digitais potenciaram significativamente a perpetração da violência sexual baseada em imagens (VSBI), oferecendo novas formas de a praticar e audiências numa miríade de plataformas online. Este estudo (N = 210) tinha como objetivo a análise da vitimação por VSBI e a exploração das reações à mesma, nomeadamente entre a população heterossexual e LGBT+. Os resultados demonstram que as pessoas transgénero e indivíduos de minorias sexuais são significativamente mais prováveis de ser vitimados por VSBI e, em particular, apresentam maior incidência e prevalência em três das manifestações analisadas (captação e divulgação não consentida de imagem de nudez e/ou cariz sexual e cyberflashing). Ademais, verificou-se que as vítimas tendem a ser mais jovens, sem diferenças estatisticamente significativas entre géneros. Ainda que a maioria das pessoas da amostra (58.1%) tenha sido vitimada, pelo menos uma vez, 97.2% (n = 104) indicou não ter reportado à Polícia.

A Red Pill no canal de YouTube Redcast: A lei da Maria da Penha e as falsas acusações de violência doméstica (incluindo sexual).

Verónica Ferreira

Nesta apresentação, proponho explorar os discursos (re)produzidos por influenciadores masculinistas da Red Pill nos seus canais de YouTube, bem como dos seus convidados, sobre as consequências da Lei Maria da Penha – que estabelece que todo caso de violência doméstica e intrafamiliar é considerado crime, devendo ser investigado por inquérito policial, remetido ao Ministério Público e julgado pelos Juizados Especializados de Violência Doméstica contra a Mulher, ou, na ausência destes, pelas Varas Criminais. O foco será nas repercussões dessa lei na vida dos homens brasileiros, especificamente aqueles residentes entre São Paulo e Rio de Janeiro, os quais associam a legislação ao tema das falsas denúncias/acusações de violência doméstica, incluindo violência sexual. A apresentação baseia-se numa parte da investigação de pós-doutoramento que atualmente desenvolvo no Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, centrada nos discursos e nas construções de género no universo da Red Pill no YouTube brasileiro.

Painel 5

Trilhos de Honra e Violência em Santa Maria da Bocca do Monte: defloramentos, estupros e raptos (1910-1939)

Bárbara Textor

A pesquisa aborda as relações de gênero, através de processos criminais, localizados no Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria (AHMSM), referentes a defloramentos, estupros e raptos. O objetivo do trabalho é analisar as práticas sociais e culturais, e os valores morais, considerando as ações e narrativas que permeiam as práticas e “estratégias” de vítimas e réus no tocante aos crimes em questão. Da mesma forma, interessa investigar de que maneira se constituem as principais diferenças entre os três tipos penais trabalhados no estudo propondo analisá-los em separado. O que se justifica na apreensão de possíveis inflexões, mas também proveniente da crítica embasada na constatação de que muitas análises do tema não primam pelo viés da tipificação do delito e suas implicações, suprimindo particularidades, sobretudo no que diz respeito às linhas tênues existentes entre os crimes sexuais de defloramento e estupro, ao que o último perde em projeção.

As “velhices femininas” navegando por novos sentidos

Ângela Virgínia Brito Ximenes

A proposta deste trabalho é a de explorar as dinâmicas discursivas de visibilização e ressignificação do envelhecimento feminino produzidas e negociadas no âmbito do perfil da plataforma digital Instagram intitulado #avosdarazao, criado e voltado para esse público. Trata-se de um estudo de caso exploratório-descritivo, sustentado numa abordagem qualitativa que combina a análise transversal do objeto com base em três perspectivas do conhecimento: os Estudos Feministas, os Estudos do Discurso e os Estudos da Comunicação. O corpus principal da pesquisa constitui-se pelos conteúdos produzidos e circulados no processo de comunicação midiatizada do referido perfil entre novembro de 2023 e fevereiro de 2024. Analisando as mensagens, marcas textuais e os signos que transitam, tanto na rede social como em suas derivações (vídeos no You Tube, livro publicado, entrevistas para canais de televisão e sites) busca-se perceber como são mobilizadas e gerenciadas novas formas de envelhecer na vida contemporânea. Com um olhar focado nessa performance, a presente pesquisa almeja um enquadramento teórico-metodológico que situe e torne explícitas – em lugares concretos de enunciação – as dinâmicas de reprodução, negociação e resistência associadas às representações dominantes do envelhecimento feminino na contemporaneidade.