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ISSN 0254-1106 e ISSN eletrónico 2182-7435
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| | | | | Maria de Lourdes Pintasilgo | | | |
As mulheres, a cidadania e a sociedade activa
(pp. 15-26)
| | | Partindo de uma reflexão em torno do conteúdo e da necessidade imperativa do reforço da cidadania na Europa e do contributo das mulheres nesse processo, a autora aponta um conjunto de transformações sociais e políticas indispensáveis. Dentre essas transformações destaca-se uma nova concepção do trabalho, mais abrangente, que possa informar os princípios fundamentais do que chama a sociedade activa, uma sociedade na qual são reconhecidas quer as múltiplas esferas de actividade — mercantil e não-mercantil — em que as pessoas estão envolvidas, quer a interdependência que existe entre elas. Para que tal seja possível é necessário encontrar novos modos de compatibilizar a vida familiar e profissional de mulheres e homens, definir novos padrões de emprego, inflectir radicalmente as orientações do ensino e alterar padrões de produção e de consumo. Tarefas impossíveis se não se firmar um novo contrato social baseado num novo contrato sexual. | |
| | | | Mary N. Layoun | | | |
A nação em transculturação e os espaços sexualmente diferenciados da diáspora: Mulher/Homem e cidadania
(pp. 27-46)
| | | Quais são as implicações das realidades cada vez mais complexas de "transculturação" e de "diáspora" para o conceito de cidadania no final do século XX? Esta questão constitui o cerne de uma breve exploração dos termos do meu título, da sua relação com o nacionalismo e a diferença sexual e a questão da cidadania. O ensaio começa com uma secção de definições preliminares: de "trans-culturação", de nação e seus espaços, do seu exceder pela diáspora, e da importância fundadora da diferença sexual para estes três conceitos. A secção II discute questões relativas ao espaço e ao tempo nacionais, à sua mensuração e ao seu exceder. A secção III retorna à acalorada polémica do século XIX sobre o cidadão e o humano ("Sobre A Questão Judaica", de Marx). À luz desta discussão, a secção IV reformula a pergunta inicial de forma mais detalhada, como introdução à última secção, que analisa três textos literários contemporâneos que tratam das questões da mobilidade, da transculturação e da cidadania. | |
| | | | Joanna Regulska | | | |
A nova "Outra" mulher europeia
(pp. 47-71)
| | | Esta comunicação sustenta que o processo de construção da identidade da "Outra" mulher europeia é formado por dois discursos dominantes, ao mesmo tempo inter-relacionados e antagónicos: o discurso politico-económico e o discurso cultural. O primeiro é moldado pela orientação ideológica dominante do Estado-providência europeu, o qual atravessa presentemente a sua própria crise de identidade e funciona sobretudo à escala nacional e internacional. Quanto ao segundo, exerce um maior poder ao nível local e pessoal na medida em que questiona e modela de forma mais directa a identidade de cada um, não obstante as práticas culturais serem, sem dúvida alguma, afectadas pela comunicação de massas e pela globalização das mercadorias e do capital. A presente abordagem visa debruçar-se sobre o significado da integração e da desintegração europeia para a construção das identidades das mulheres na Europa Central e de Leste. Para tal, irá averiguar os diversos modos como os dois discursos — o político-económico e o cultural - estão a contribuir para este processo. A parte final procurará mostrar, através de uma selecção de exemplos, os modos como as mulheres de diferentes países estão a viver os processos de integração/exclusão e quais as respostas que lhes têm dado. | |
| | | | Rosi Braidotti | | | |
A diferença sexual e o controverso conceito de cidadania europeia
(pp. 73-82)
| | | O artigo aborda o conceito de "cidadania europeia" a partir da teoria social feminista e dos debates sobre subjectividade, diferença sexual e diversidade, procurando uma análise interdisciplinar. A discussão centra-se na inter-relação entre, por um lado, uma compreensão multifacetada da subjectividade (incluindo a variável sexo/diferença sexual) e, por outro, questões relacionadas com a nacionalidade, incluindo as diferenças étnicas e raciais. | |
| | | | Françoise Gaspard | | | |
Invísiveis, diabolizadas, instrumentalizadas: figuras de mulheres migrantes e das suas filhas na Europa
(pp. 83-101)
| | | Os países europeus de imigração passaram, em poucos anos, de uma atitude de indiferença em relação às mulheres migrantes — uma indiferença que tem ocultado a realidade de uma migração feminina diversificada e especialmente de uma migração feminina autónoma — para uma atitude de interesse expressa através de duas representações contraditórias. Por um lado, as mulheres são vistas como portadoras de tradições, o que presumivelmente prova a impossibilidade de integração numa sociedade diferente (as muçulmanas que usam véu, por exemplo). Por outro lado, são vistas como agentes da integração: os estados fazem-lhes apelos para pacificar conflitos, para servirem de mediadoras entre as suas comunidades e a sociedade. Em ambos os casos são sem dúvida tomadas em conta, mas são vistas como mulheres e não como pessoas.
A autora situa esta visão das mulheres migrantes dentro da questão mais lata da migração das mulheres, que é muito mais complexa nas suas motivações do que tem sido considerada. A integração da migração das mulheres no contexto geral dos fenómenos migratórios permite-nos revelar não só estratégias sexualmente diferenciadas, como também reacções por parte das populações autóctones que diferem segundo o sexo do/a migrante. | |
| | | | Fortunata Piselli | | | |
Mulheres migrantes: uma abordagem a partir da teoria das redes
(pp. 103-119)
| | | O artigo avalia a contribuição analítica do conceito de rede para o estudo dos movimentos migratórios e em particular das trajectórias das mulheres. Na primeira parte, analisam-se as abordagens mais importantes do fenómeno migratório (as correntes quantitativa e de estudos de caso) sublinhando-se os seus objectivos, características e limitações. De seguida, discutem-se os contributos mais interessantes da teoria das redes, de forma a avaliar a contribuição específica desta abordagem. Pretende demonstrar-se que o conceito de rede é particularmente adequado para a análise das migrações do ponto de vista da diferença sexual: para reconstruir as trajectórias das mulheres, as dinâmicas das suas escolhas do ponto de partida ao ponto de chegada; para identificar o papel das mulheres nas estratégias de reprodução económica, cultural e social dos grupos étnicos. Estudando a morfologia e o conteúdo das interacções, a teoria das redes permite identificar o peso das mulheres nas redes (a sua centralidade ou marginalidade em termos locais ou globais). | |
| | | | Louise Ackers | | | |
"Cuidar de longe": mulheres, mobilidade e autonomia na União Europeia
(pp. 121-151)
| | | O artigo debruça-se sobre um aspecto da experiência das mulheres que raramente aparece tratado em pormenor na bibliografia referente às migrações: o impacto que o factor migração exerce sobre os recursos e as obrigações inerentes à prestação de cuidados. A autora discute a relação entre prestação de cuidados e autonomia, tanto em termos do impacto que a migração tem nas redes de apoio que o país de acolhimento põe à disposição da pessoa prestadora de cuidados, como em termos das obrigações de assistência que continuam a ligá-la ao respectivo país de origem. O trabalho assenta numa análise de trajectórias de vida de mulheres migrantes, ilustrando a importância de uma perspectiva biográfica nas análises da migração e da cidadania. | |
| | | | Heloísa Perista | | | |
Mulheres em diáspora na União Europeia: percursos migratórios e trajectórias profissionais e familiares
(pp. 153-165)
| | | No texto são apresentadas as principais conclusões de um estudo sobre as experiências particulares das mulheres migrantes em Portugal, especialmente no que diz respeito aos seus percursos migratórios e às suas trajectórias profissionais e familiares. Trata-se de uma análise qualitativa, baseada em entrevistas em profundidade a 75 mulheres migrantes provenientes de outros países da União-Europeia. Na análise desenvolvida são tomadas em conta factores, que frequentemente interagem entre si, como a situação no emprego e o nível de habilitações anteriores à migração, a nacionalidade e o reconhecimento e a transferibilidade de competências, sendo dada particular atenção aos efeitos que o casamento e os cuidados às crianças têm sobre as carreiras das mulheres migrantes ao longo do seu ciclo de vida. | |
| | | | Manuela Ribeiro | | | |
Tomando a dianteira: mulheres e emigração em regiões desfavorecidas
(pp. 167-182)
| | | Em aberto contraste com o padrão dominante do que se pode considerar como a primeira fase do ciclo europeu da emigração, as mulheres, em especial as mais jovens, as raparigas, têm vindo a posicionar-se na primeira linha do processo, imparável, de abandono das regiões ditas desfavorecidas, das regiões de montanha em particular.
Largamente informado e enformado pelas mudanças e desenvolvimentos registados nos contextos genéricos de partida e de destino, tecido e concretizado no âmbito de complexas teias de cumplicidade e solidariedade femininas, este progressivo predomínio das mulheres nos processos emigratórios entronca directamente num quadro mais vasto de estratégias de desagrarização, a que as mulheres rurais vêm dando corpo em resposta aos múltiplos desfavores gerais que marcam a vida e os modos de a viver nestas regiões e aos muitos mais que lhes acrescem por virtude da sua condição de mulheres. | |
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