| A caminhada dos peregrinos a Fátima é um dos exemplos de secularização e auto-gestão da religiosidade vigentes na sociedade portuguesa. Baseado numa recolha de informação por inquérito, este texto procede à caracterização sociográfica dos peregrinos-caminhantes e à descrição sucinta da gestão do percurso. Analisam-se também as motivações que lhe subjazem, de modo a detectar a natureza altruísta ou egoísta da promessa de "ir a pé a Fátima".
Dada a dominância das motivações materialistas, o carácter predominantemente egoísta da promessa e a discrepância entre crenças e práticas religiosas dos caminhantes, o texto demonstra o forte pendor refractário desta peregrinação a pé, por referência aos cânones do catolicismo moderno.
Conclui-se que o santuário é arbitrariamente percepcionado pelos peregrinos-caminhantes e, neste sentido, é a estrada que justifica o santuário, não o inverso. No acto de peregrinar, o caminhante, de devedor, transmuta-se em credor e a dívida converte-se em crédito para o futuro, acima de tudo, para o futuro da vida material. | |