Identidades, Colonizadores e Colonizados – Portugal e Moçambique

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Este projecto pretende analisar a construção de processos identitários quer em Portugal, quer em Moçambique, forjados em momentos repletos de ambivalências e contradições, uma vasta e multissecular zona de contacto que constitui este espaço-tempo.
Este projecto procurou analisar a especificidade do encontro colonial moderno - estando cronológicamente centrado no período que medeia entre 1890 e 1930 - através de um estudo do espaço, da cultura e do poder entrançados nas variadas ‘zonas de contacto’ que se constituíram no actual território que é Moçambique. Para tal, privilegiou-se uma perspectiva pós-colonial – entendida não como um corpus teórico uniforme, mas como um campo onde se cruzam várias estratégias analíticas e teóricas resultantes do encontro colonial - por permitir detectar a especificidade de cada acção local, articulando as diferenças e as semelhança dos processos numa perspectiva transescalar (Santos, 1998, 2001a). Esta aposta na busca de uma perspectiva pós-colonial obrigou a um estudo comparado com outras realidades vizinhas, procurando compreender as especificidades da colonização portuguesa; para tal, uma pesquisa interdisciplinar – que combinou a história, a antropologia, a sociologia, a literatura, a economia, etc. – revelou-se essencial
Os ecos dos pensamentos e acções africanas, conjugadas com as reflexões portuguesa - pilares da reflexões e das propostas alternativas de construção de uma situação pós-colonial - constituem hoje instrumentos base não só para a interpretação da situação colonial e das raízes das independências, mas também para compreender as opções escolhidas e que hoje nos motiva politicamente. O prefixo ‘pós’, longe de apontar para uma periodização cronológica subjacente a uma progressão linear do processo histórico, contém em si os artefactos resultantes do encontro colonial, obrigando a uma reflexão sobre os múltiplos sentidos destes encontros. A questão pós-colonial adquire assim o sentido de um espaço de contestação e procura de (re)significação.
Neste sentido, os colonizados não são vistos como elementos passivos do processo de colonização. Embora afrontados em diferentes graus e subalternizados, são também agentes, conscientes, das mudanças sociais. Enquanto actores de uma traumatizante experiência colonial, importa também analisar como as distintas formas de resistência vão constituindo espaços de reconfiguração identitária. O desafio consiste pois em encontrar um equilíbrio entre a homogeneidade e a complexidade, pois que não é possível identidade sem diferença, e as diferenças pressupõem uma certa homogeneidade no detectar o que é distinto nas diferenças.

Investigadores: Boaventura de Sousa Santos e Maria Paula Meneses

Investijador júnior: Margarida Gomes

Projecto desenvolvido entre 2002 e 2005, financiado pela FCT