Movimentos Sociais, Protesto e Democracia Participativa

Com este projecto pretende-se analisar a lógica e a dinâmica do protesto social em Portugal. O objectivo fundamental será elaborar uma análise comparativa geracional sobre os temas gerais de protesto, as capacidades de mobilização, a emergência de lideranças e as suas características sócio-culturais.
Argumenta-se que a sociedade portuguesa, por influência directa da Revolução de Abril de 1974, é uma sociedade crítica ancorada num localismo acentuado. Optando por não tomar esse localismo como um factor negativo, procura-se verificar como o mesmo pode potenciar uma renovação da vivência política, assente na participação e na proximidade dos poderes aos cidadãos, numa democratização radical da vida social e política. Daí que seja importante para este projecto ver como se cruzam, constroem e reconstroem as memórias políticas desse passado revolucionário e como são apropriados ou aplicados em novos contextos e a novos problemas símbolos e cânticos que fazem parte de um reportório comum de protesto.
Tomando como assente o princípio de que a competência crítica dos actores é geral, embora com acessos desiguais aos recursos que permitem essa mesma crítica, analisa-se também as categorias da indignação activadas pelos actores, procurando detectar que mobilizações se estabelecem, que redes se criam, que inscrições são feitas em objectos, em instituições ou em espaços. Tendo como objecto as categorias comuns da indignação, pergunta-se que condições e constrangimentos conduzem ao distanciamento que permite a crítica. Quando se transformam a indignação e a crítica em acção colectiva? Que democracia e que participação nesse processo de mobilização? Que aliados e que adversários são produzidos? Que recursos materiais, relacionais e discursivos são utilizados? Qual o papel dos líderes? Serão estes incontornáveis?
Partindo da pluralidade de princípios de justiça aplicados e da pluralidade de critérios da grandeza dos actores sociais, pretende-se ver como a acção crítica permite a construção e/ou reconstrução das identidades pessoais e colectivas dos participantes nos movimentos de protesto e de reivindicação. É importante verificar quais os valores em que se baseiam as operações de avaliação dos actores, quais os modos de justificação das suas acções e o grau de estabilidade e reversibilidade desses valores.
Empiricamente serão estudados os movimentos de protesto dos estudantes contra as reformas educativas e um movimento de reivindicação local. Como métodos far-se-á recurso à análise documental e de imprensa, a entrevistas semi-estruturadas com líderes e participantes nos movimentos em estudo e à observação participante.
Noutra dimensão, e de forma complementar, pretende-se estudar que categorias da indignação e da crítica são trabalhadas e legitimadas pelos meios de comunicação e pelos teóricos das ciências sociais portugueses e, consequentemente, como constroem simbolicamente estes mediadores culturais e políticos a vivência política em Portugal.

 

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